segunda-feira, 31 de outubro de 2011

Pseudo-Consciência, Total Alienação

Atualmente tenho lido principalmente em redes sociais, assuntos e idéias vistos com a lente do Politicamente Correto.
Pode parecer chatice ou falta de paciência da minha parte, mas o que digo aqui são exemplos de alienação e falta de consciência social.
Certo dia, apresentei um amigo homossexual a uma pessoa próxima, conversamos, trocamos idéias e fomos embora. Quando essa pessoa voltou pra casa e encontrou seu marido, começou logo a dizer o quanto o “bixinha” era querido.
- Nossa, ele é um amor, é “bixinha”, mas como é queridinho e educado.
Fiquei muito surpresa quando ouvi isso e na hora, até soltei uma risada, mas fiquei pensando o quão ridículo foi aquele comentário. Parecia que a pessoa estava dizendo que o sujeito em questão tinha um grande defeito, mas em compensação tinha outras qualidades.
Outra situação que já presenciei e esta é ainda mais comum, é quando, por exemplo, em um estabelecimento comercial uma vendedora te atende, mas tu não compra nada. Em outro momento tu retorna à loja pra efetuar o negócio, aí te perguntam:
- Lembra quem te atendeu?
- Foi uma “moreninha”, alta e de cabelos compridos.
É difícil lembrar o nome dos vendedores e até acredito ser de praxe dar as características físicas do mesmo, mas acho incrível como as pessoas têm medo ou receio de dizer uma característica da pessoa, uma característica obviamente mais notável do que o comprimento dos cabelos e que não é mentira e nem ofensa.
Penso da mesma forma que na situação do meu amigo homossexual, para algumas pessoas, parece que o negro tem um grande problema em ter nascido negro, e as pessoas chamam de “moreno” pra tentar amenizar esse “defeito”.
Aí penso na questão do politicamente correto, a impressão que tenho é que, agindo da forma que estas pessoas agiram nas duas situações citadas, elas estão sendo corretas, que não estão ofendendo ninguém e que estas atitudes são certas.
Acredito que essa alienação tem muito a ver com a consciência social. É necessário que nós todos tenhamos noção de que as pessoas são diferentes em muitos aspectos, mas não acho necessário tratar estas diferenças como sendo algo anormal.
Será mesmo que no imaginário das pessoas, um homossexual deve ser tratado como “queridinho”, pra compensar um defeito que ele tem? Ou será que todo o negro deve ser chamado de “moreno” pra amenizar uma característica fenotípica que lhe parece anormal?
Essa idéia de politicamente correto não me parece “correta” nestes aspectos que citei. Vejo como uma noção deturpada do que realmente é correto e do que realmente é consciência social.

Postado por: Lisiane

terça-feira, 18 de outubro de 2011

HOMELESS PEOPLE

"Nos últimos dez anos tenho estado intensamente envolvida com mulheres que não têm um teto; gente que nos Estados Unidos é chamada de "Homeless People" [moradores de rua], um modo de categorizá-la e esquecê-la. Tenho feito todo tipo de atividade com essa mulheres que se tornaram minhas amigas. Dirijo grupos de recuperação para mulheres que foram violentadas ou obrigadas a praticar incesto. Dirijo ainda grupos de recuperação para viciadas em álcool e drogas. Vou ao cinema com elas, faço refeições com elas, passeio com elas. Durante os últimos dez anos entrevistei centenas de mulheres. Durante esse tempo encontrei apenas duas que não haviam sido submetidas a incesto quando meninas ou violentadas quando jovens. Desenvolvi uma teoria de que, para a maioria dessas mulheres, "lar" é um lugar muito amedrontador; um lugar de onde fugiram. Os abrigos em que as encontrei foram os primeiros lugares onde muitas delas encontraram segurança, proteção ou conforto na comunidade de outras mulheres.
[...] As mulheres pobres sofrem terríveis violências sexuais que dificilmente são registradas oficialmente. Em decorrência de sua classe social, essas mulheres não têm acesso à terapia ou a outros métodos de cura. O abuso contínuo destrói a sua auto-estima e as conduz às drogas, à prostituição, AIDS e, em muitos casos, à morte. [...] Escrevi este texto para elas; para seues espíritos extraordinários; para mulheres que não vemos, que sofrem e que necessitam de nós."
ENSLER Eve. Os Monólogos da Vagina. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2000.

Aqui no Brasil também chamamos de moradores de rua as pessoas que estão nas ruas. Aqui no Brasil também as categorizamos e esquecemos. Aqui também não as vemos. Bem, vemos distorcidamente. Vemos como drogados, vagabundos, alcoolátras, etc. Vemos essas pessoas como merecedoras do lugar onde estão (ou onde não estão), como uma escolha que elas mesmas tiveram, as vemos como algo normal. Normatizamos a questão de existirem pessoas sem um lar, passando dificuldades. O que nós não vemos é que são PESSOAS, que têm HISTÓRIAS DE VIDA. Não vemos a violência que sofrem ou sofreram. Não vemos a fome que sentem. Não vemos o frio que sentem... Como a professora Vanessa disse em uma aula, normatizamos os problemas sociais para não nos desacomodarmos, para não nos sentirmos responsáveis por eles.
Bem como a autora disse, essas pessoas não têm acesso à terapia, por que teriam se não existem para nós, ou melhor, se existem e estão onde deveriam estar? Um morador de rua é um morador de rua, não há porque ajudá-lo, não há porque se importar. Se espera que um morador de rua saiba se virar sozinho. Existem psicólogos que cobram uma fortuna por uma consulta que nem mesmo pessoas que têm casa, comida, emprego, dinheiro, etc. podem pagar. Quem dirá essas pessoas. É muito bonito o discurso do psicólogo que quer se formar ou que se formou para ajudar pessoas... Mas só se essas pessoas tiverem dinheiro.
Claro que nos fomamos, nos tornamos profissionais e devemos cobrar pelo nosso serviço prestado... Mas paralelo a isso não pode se fazer um trabalho voluntário?
Não faz muito tempo atrás, em uma aula de Social, eu e a Dani Viau estavámos falando sobre como o trabalho voluntário é desvalorizado pela maioria das pessoas. Acredito que esse é mais um discurso no qual a maioria da sociedade vive, de que trabalho voluntário é bobagem, que quem trabalha de graça é relógio; ou então que não há tempo para isso. Sendo que como a Dani - que faz trabalho voluntário - disse, o trabalho voluntário faz um bem enorme pra quem está ali, ajudando pessoas. REALMENTE AJUDANDO PESSOAS, na minha humilde opinião...

Ps: Acho que não preciso explicar onde se encontram a conscientização e a alienação nesse texto.

Jéssica Fagundes.

segunda-feira, 17 de outubro de 2011

SOCIEDADE x POLÍCIA x BANDIDO

"Somos uns 150 homens, aproximadamente. Sempre que se quis aumentar esse número, deu merda. Não é fácil ingressar no BOPE. Isso eu posso garantir. Não é para qualquer um. Temos um puta orgulho do uniforme preto e do nosso símbolo: a faca cravada na caveira. Os marginais tremem diante de nós. Não vou iludir você: com os marginais, não tem apelação. À noite, por exemplo. não fazemos prisioneiros. Nas incursões noturnas, se toparmos com vagabundo, ele vai pra vala. Sei que essa política não foi correta. Agora, não tem mais jeito. A gente mata ou morre. Antes da implantação dessa política, há muitos anos, o marginal se rendia, quando se via inferiorizado. A ordem de atirar para matar, não admitindo rendição de bandido, acabou provocando um efeito paradoxal: aumentou a resistência deles e a violência contra a polícia.
Com isso, cresceu muito o número dos autos de resistência seguidos de morte [...]. Por outro lado, multiplicaram-se os assassinatos cometidos contra policiais. Por vingança. Essa espécie de vingança ainda  mais doentia, dirigida a toda uma corporação. Espelho da vingança que nós mesmos praticávamos, às vezes contra uma favela inteira. O sangue é um veneno. quanto mais se derrama, mais fertiliza o ódio. E a roda não pára de girar. No final, todos pagamos a conta, a começar pela sociedade. Foi um insanidade aquela política. E agora? Os herdeiros da loucura somos nós. O jeito é atirar mais rápido para não morrer. Os políticos e os acadêmicos que discutam o sexo dos anjos."
BATISTA, André. Elite da Tropa. Rio de Janeiro: Objetiva, 2006.

Estava relendo algumas partes do livro Elite da Tropa porque sabia que reencontraria nele questões que remetem ao assunto do blog: conscientização x alienação. Aliás, aconselho a leitura a todos que gostaram do filme Tropa de Elite, pois o mesmo foi baseado nas histórias verídicas desse livro. E o livro é tão bom quanto o filme... Talvez melhor.
Depois que vimos em aula o documentário Ônibus 174, achei necessário comentá-lo, então percebi que o link entre o livro Elite da Tropa, o filme Tropa de Elite e o documentário Ônibus 174 daria um bom post.
Explicando melhor: Os três contam histórias do dia-a-dia da guerra civil que há no Rio de Janeiro. Histórias comuns quando ocorrem dentro das favelas (como vemos em Elite da Tropa e Tropa de Elite), mas que se tornam trágicas aos olhos da mídia e, consequentemente, da sociedade quando ocorrem fora delas (como vemos em Ônibus 174).
Falando mais especificamente do livro Elite da Tropa: Eu adoro demais ele! Verdade. Muito bem escrito por três ex-BOPEs (Luiz Eduardo Soares, André Batista e Rodrigo Pimentel), apesar de eu acreditar que lá no fundo eles nunca deixam de ser BOPE, parece ser uma religião para eles ou algo acima disso, envolve honra e heroísmo. Pelo menos é assim que eles parecem pensar, e não tenho intenção de julgar esse pensamento.
A minha intenção é falar sobre algumas coisas que eu pensei e senti lendo esse livro.

Se eu pudesse definir Elite da Tropa em uma palavra, "chocante" seria óbvia demais, é uma palavra esperada (lembrando que o livro se equipara tranquilamente ao filme), então, minha palavra seria: AMBÍGUO. Não pelo livro ser ambíguo, pois não é, mas por nos sentirmos ambíguos o lendo.
As histórias do livro me fizeram, em diferentes momentos:
1 - Odiar os bandidos.
2 - Odiar os policiais.
3 - Odiar os políticos.
4 - Achar que todos somos vítimas.
5 - Achar que todos somos culpados.
6 - Odiar a (nossa) hipocrisia da sociedade.
Agora, tendo aulas sobre o Paradigma do Complexo de Edgar Morin e sendo incumbida de falar sobre o assunto do blog, me surgiu um novo pensamento.
7 - SOMOS TODOS ALIENADOS.
Sim, todos alienados a sua maneira.

Os policiais corruptos começam a se corromper nas coisas mais simples, menores (que não são tão menores assim), não percebem o verdadeiro papel que estão exercendo, a importância de seus atos. Quando se dão conta, já estão negociando com traficantes, executando ou mandando executar pessoas, metidos em guerras com os inimigos, traindo aliados, etc. Muitos se arrependem e querem voltar atrás, mas dificilmente conseguem sair do esquema, há sempre ameaças e chantagens, algo que vemos muito bem no filme Tropa de Elite.
Com os bandidos não é muito diferente, vão entrando no mundo do crime aos poucos, começam jovens, para sustentar a família, para se alimentar e se vestir, começam a usar drogas quando crianças sem nem ter noção do que é droga,  e raramente conseguem sair dessa situação bem, saem cedo, mortos, como vemos em Ônibus 174.
O BOPE (Batalhão de Operações Policiais Especiais do Rio de Janeiro) segue uma política violenta que foi politicamente implantada para acabar com a violência, mas é claro, o efeito foi inverso e a violência aumentou confirmando o velho chavão "violência gera mais violência".
O autor do trecho (André Batista) falou das mortes  por ódio e vingança, disse que "o sangue é um veneno" e finaliza dizendo que todos nós "pagamos a conta". A polícia, os bandidos, a sociedade.
"Os políticos e os acadêmicos que discutam o sexo dos anjos". Esse último comentário diz onde nós estamos. Não estamos nem queremos estar a par de toda essa violência diária, de todas essas mortes que acontecem em vão. O livro fala de RJ, mas essa chacina urbana acontece em todos os lugares e é ignorada por nós, que fingimos que não vemos ou que realmente não vemos.
Estamos todos alienados sobre essa realidade, sobre como e porque chegamos a esse ponto, não sabemos todos os lados dessa história, não sabemos como, pelo menos, reduzir tanta violência. Boa parte de nós acha ótimo que a polícia mate os vagabundos. Os bandidos acham ótimo matar policiais. E nessa guerra muita gente morre.

Essa guerra corrompe e mata muita gente. E nós vemos? Nós damos importância?

Jéssica Fagundes.