terça-feira, 18 de outubro de 2011

HOMELESS PEOPLE

"Nos últimos dez anos tenho estado intensamente envolvida com mulheres que não têm um teto; gente que nos Estados Unidos é chamada de "Homeless People" [moradores de rua], um modo de categorizá-la e esquecê-la. Tenho feito todo tipo de atividade com essa mulheres que se tornaram minhas amigas. Dirijo grupos de recuperação para mulheres que foram violentadas ou obrigadas a praticar incesto. Dirijo ainda grupos de recuperação para viciadas em álcool e drogas. Vou ao cinema com elas, faço refeições com elas, passeio com elas. Durante os últimos dez anos entrevistei centenas de mulheres. Durante esse tempo encontrei apenas duas que não haviam sido submetidas a incesto quando meninas ou violentadas quando jovens. Desenvolvi uma teoria de que, para a maioria dessas mulheres, "lar" é um lugar muito amedrontador; um lugar de onde fugiram. Os abrigos em que as encontrei foram os primeiros lugares onde muitas delas encontraram segurança, proteção ou conforto na comunidade de outras mulheres.
[...] As mulheres pobres sofrem terríveis violências sexuais que dificilmente são registradas oficialmente. Em decorrência de sua classe social, essas mulheres não têm acesso à terapia ou a outros métodos de cura. O abuso contínuo destrói a sua auto-estima e as conduz às drogas, à prostituição, AIDS e, em muitos casos, à morte. [...] Escrevi este texto para elas; para seues espíritos extraordinários; para mulheres que não vemos, que sofrem e que necessitam de nós."
ENSLER Eve. Os Monólogos da Vagina. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2000.

Aqui no Brasil também chamamos de moradores de rua as pessoas que estão nas ruas. Aqui no Brasil também as categorizamos e esquecemos. Aqui também não as vemos. Bem, vemos distorcidamente. Vemos como drogados, vagabundos, alcoolátras, etc. Vemos essas pessoas como merecedoras do lugar onde estão (ou onde não estão), como uma escolha que elas mesmas tiveram, as vemos como algo normal. Normatizamos a questão de existirem pessoas sem um lar, passando dificuldades. O que nós não vemos é que são PESSOAS, que têm HISTÓRIAS DE VIDA. Não vemos a violência que sofrem ou sofreram. Não vemos a fome que sentem. Não vemos o frio que sentem... Como a professora Vanessa disse em uma aula, normatizamos os problemas sociais para não nos desacomodarmos, para não nos sentirmos responsáveis por eles.
Bem como a autora disse, essas pessoas não têm acesso à terapia, por que teriam se não existem para nós, ou melhor, se existem e estão onde deveriam estar? Um morador de rua é um morador de rua, não há porque ajudá-lo, não há porque se importar. Se espera que um morador de rua saiba se virar sozinho. Existem psicólogos que cobram uma fortuna por uma consulta que nem mesmo pessoas que têm casa, comida, emprego, dinheiro, etc. podem pagar. Quem dirá essas pessoas. É muito bonito o discurso do psicólogo que quer se formar ou que se formou para ajudar pessoas... Mas só se essas pessoas tiverem dinheiro.
Claro que nos fomamos, nos tornamos profissionais e devemos cobrar pelo nosso serviço prestado... Mas paralelo a isso não pode se fazer um trabalho voluntário?
Não faz muito tempo atrás, em uma aula de Social, eu e a Dani Viau estavámos falando sobre como o trabalho voluntário é desvalorizado pela maioria das pessoas. Acredito que esse é mais um discurso no qual a maioria da sociedade vive, de que trabalho voluntário é bobagem, que quem trabalha de graça é relógio; ou então que não há tempo para isso. Sendo que como a Dani - que faz trabalho voluntário - disse, o trabalho voluntário faz um bem enorme pra quem está ali, ajudando pessoas. REALMENTE AJUDANDO PESSOAS, na minha humilde opinião...

Ps: Acho que não preciso explicar onde se encontram a conscientização e a alienação nesse texto.

Jéssica Fagundes.

7 comentários:

  1. Oi Jéssica!

    Muito legal a tua postagem! Dá para perceber a tua presença nela, as tuas reflexões! Este é o "espírito" dos blogs! Fiquei pensando em vários pontos. Um deles é que a discussão sobre "consciência social" remete à uma ética, ou seja, a uma forma como as pessoas se relacionam com a moral. Podemos nos relacionar com os problemas sociais somente a partir da culpa, ou podemos refletir sobre eles e entender que fazemos parte dos processos sociais como atores legítimos. Acho que seria legal vocês colocarem um post sobre ética... O trabalho voluntário, por sua vez, acontece em geral por três motivos "éticos": o da culpa, o do discurso políticamente correto e o da consideração de que "o social" não é algo separado de nós mesmos, mas produzido a partir de relações. Construirmos novos modos de relações, não tão injustas, é um caminho possível para qualquer pessoa em seu cotidiano. Para vocês, enquanto cidadãos isso é fundamental. Mas, mais do que isso, é importante que possam construir isso também enquanto profissionais no futuro, como psicólogos politicamente implicados com a problemática social do nosso contexto!

    Um grande abraço!

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  3. Oi Jé!!

    Acredito no valor de cada ser humano, antes de qualquer "diferença" todos são seres humanos. Acredito que todas as pessoas deveriam ter condições básicas necessárias para viver de maneira a ter dignidade e poder ocupar um lugar na sociedade, no mundo. Mas diante de vários problemas sociais, políticos e econômicos, como podemos ajudá-las? É fácil, podemos fazer o que está ao nosso alcance e esperar que as soluções maiores venham de projetos desenvolvidos para amenizar todo o tipo de sofrimento pelo qual crianças, jovens, e adultos passam.
    Sou voluntária da Fundação Thiago de Moraes Gonzaga (Vida Urgente) que é uma ação que não tem a ver com os moradores de rua, mas tem a ver com sofrimento que muitas famílias passam, trabalhamos com a conscientização, valorização e preservação da vida, em ênfase no trânsito. A cada ação que fazemos conseguimos mobilizar muitas pessoas, mas para nós, mesmo que consigamos conscientizar apenas uma pessoa a respeitar a sua vida, esta vai respeitar a vida do outro também.
    Se cada pessoa fizer um pouco, levando o amor e dedicando um tempo mínimo ao próximo, com certeza essas pessoas não se sentirão tão desamparadas.
    Parabéns pelo blog!!

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  4. Muito bom o post!

    A maioria das pessoas só se interessa por problemas quando estes os afetam diretamente, os problemas dos outros não é sua responsabilidade, desconsiderando o fato de que algumas pessoas sem auxílio não podem resolvê-los, que cada gesto de ajuda, além de muito bem-vindo, é necessário.

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  5. Hey Jéh!!
    Parabéns, o post está ótimo!

    É incrível como é difícil que as pessoas percebam como uma pequena atitude pode fazer uma enorme diferença. É óbvio que ninguém, por mais boa vontade que tenha, tem o poder de mudar o mundo de uma só vez, mas se cada um fizesse algo pequeno, isso já poderia ter grande e positiva consequência, mesmo que temporária, na vida de alguém que realmente precise. Não se trata de esmola, e sim de humanidade. Como citado no texto, o trabalho voluntário é extremamente válido. Não é trabalhar de graça e morrer de fome, é conseguir, e querer, ver que dá pra trabalhar para viver, ganhando seu dinheiro, colhendo os frutos dos anos de faculdade, mas também dá pra dispensar um tempo pra usar seu conhecimento e sua boa vontade em prol de quem precisa. Infelizmente vivemos em um mundo cheio de problemas sociais, e se há pessoas que podem e querem ajudar, isso deve ser estimulado. Faz bem a quem dá e a quem recebe ajuda.

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  6. Vanessa, Dani e Mário.
    Vanessa, a questão ética que tu trouxe nesse comentário foi muito interessante, não tinha pensado nisso, mas é verdade que muitas vezes os trabalhos voluntários são feitos, como tu disse, por culpa ou pelo discurso do "politicamente correto", parece que há uma minoria de pessoas que realizam esse trabalho pelas pessoas que estão ajudando e para conscientizar mais pessoas, como é o caso da Dani. E realmente, a maioria de nós, como disse o Mário, só se preocupa com os problemas sociais não por eles serem sociais, mas quando nos afetam diretamente.

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  7. Oi Jéssica!
    Gostei muito do teu texto, acho que é isso aí! Qualquer problema social acaba sendo normatizado, esquecido e ninguém mais se importa se as pessoas estão morrendo de fome, de sede ou de frio... Ou se se importam, geralmente querem algo em troca, é assim que funciona, infelizmente...
    Na cidade dos meus pais, como eles tem um pé na prefeitura e trabalham com toda uma questão política e social, eu sempre participo de algum projeto social que eles acabam pondo em prática, e realmente é bastante gratificante ajudar pessoas que realmente precisam, pois por lá, uma parcela grande da população é carente e é importante dar auxílio a essas pessoas.
    Acho que trabalho voluntário não é perda de tempo jamais, pelo menos para mim, que é uma área em que penso em me especializar. Além de ser uma grande experiência, esse contato acaba sendo bacana.
    Acho que se tu tens condições de ajudar alguém de forma que tu nao ganhes nada em troca é muito humano, importante pra sociedade e gratificante pra ti.

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